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Summary
# O código genético e a tradução
A tradução é o processo biológico fundamental pelo qual a informação genética codificada no mRNA é convertida numa sequência específica de aminoácidos, resultando na formação de proteínas funcionais [1](#page=1).
### 1.1 O processo de tradução e a sua importância
A tradução é o elo direto entre o código genético e a função celular. As proteínas desempenham um papel crucial em praticamente todos os processos biológicos do corpo humano, atuando como componentes estruturais, enzimas, transportadores, hormonas e anticorpos [1](#page=1).
### 1.2 A decifração do código genético
O código genético é lido em sequências de três nucleotídeos, conhecidas como codões, no mRNA, na direção 5' para 3'. A decifração deste código foi um marco na genética molecular [2](#page=2).
#### 1.2.1 A experiência de Nirenberg e Matthaei
Em 1961, Marshall Nirenberg e Heinrich J. Matthaei realizaram um experimento crucial para decifrar o código genético. Eles utilizaram um mRNA sintético contendo apenas a base uracilo (poliU) e o citoplasma de *E. coli*, que possuía todos os componentes necessários para a tradução. Ao testar cada um dos 20 aminoácidos (marcados radioativamente), descobriram que o poliU codificava o aminoácido fenilalanina. Este experimento inicial abriu caminho para a determinação completa do código genético [3](#page=3) [4](#page=4) [5](#page=5).
### 1.3 Características do código genético
O código genético possui características distintas que regem a tradução de mRNA em proteínas:
* **Universalidade:** O código genético é, em grande parte, lido da mesma forma em todos os organismos, desde bactérias até mamíferos [3](#page=3) [5](#page=5).
* **Degenerescência:** Um único aminoácido pode ser codificado por mais de um codão. Com quatro bases (A, U, G, C) no RNA e tripletos de bases, existem $4^3 = 64$ codões possíveis. Estes 64 codões codificam os 20 aminoácidos padrão e três codões de terminação [3](#page=3) [6](#page=6).
* **Codão de iniciação específico:** O codão AUG funciona como o codão de início para a tradução na maioria dos casos, codificando o aminoácido metionina [6](#page=6).
* **Codões de terminação específicos:** Existem três codões que sinalizam o fim da tradução: UAG, UAA e UGA [6](#page=6).
> **Tip:** A degenerescência do código genético é importante, pois confere robustez ao processo de tradução. Mutações pontuais que alteram um nucleotídeo podem não resultar numa alteração do aminoácido codificado, devido à redundância do código.
### 1.4 Exceções ao código genético universal
Embora o código genético seja amplamente universal, existem algumas exceções notáveis, particularmente em organelos como as mitocôndrias [7](#page=7).
#### 1.4.1 Código genético mitocondrial
As mitocôndrias possuem o seu próprio genoma circular, que codifica um conjunto de RNAs de transferência (tRNAs) e RNAs ribossómicos (rRNAs), além de genes essenciais para a função respiratória. O código genético das mitocôndrias apresenta algumas diferenças em relação ao código universal. Por exemplo, alguns codões que significam terminação no código universal podem codificar aminoácidos nas mitocôndrias, e vice-versa [5](#page=5) [7](#page=7) .
> **Example:** Na Tabela do código genético universal e mitocondrial, pode observar-se que o codão UGA, que normalmente é um codão de terminação, codifica o triptofano em algumas mitocôndrias .
### 1.5 Quadros de leitura abertos (ORFs)
Um quadro de leitura aberto (ORF - Open Reading Frame) é uma sequência contínua de nucleotídeos em DNA ou RNA que pode ser traduzida numa proteína. Um ORF começa tipicamente com um codão de iniciação (AUG) e termina com um codão de terminação (UAA, UAG ou UGA) .
#### 1.5.1 Identificação de ORFs
Cada gene pode ter até seis quadros de leitura abertos possíveis, dependendo da direção de leitura (5'→3' ou 3'→5') e do ponto de partida da leitura. Ferramentas bioinformáticas, como o NCBI ORF Finder, são essenciais para analisar sequências de nucleotídeos, identificar codões de iniciação e terminação, e detectar ORFs em múltiplos quadros de leitura. Estas ferramentas são cruciais na genómica e biotecnologia modernas .
### 1.6 Aminoácidos: os blocos de construção das proteínas
Os aminoácidos são compostos orgânicos que contêm um grupo amino ($-\text{NH}_2$), um grupo carboxilo ($-\text{COOH}$) e uma cadeia lateral (grupo R) específica para cada um .
#### 1.6.1 Composição e classificação dos aminoácidos
Existem 20 aminoácidos padrão codificados pelo código genético. Adicionalmente, a selenocisteína e a pirrolisina podem ser incorporadas em proteínas através de mecanismos especiais de tradução. Os aminoácidos são classificados como :
* **Essenciais:** Não são sintetizados pelo organismo e devem ser obtidos através da dieta (ex: leucina, lisina) .
* **Não essenciais:** São produzidos pelo próprio organismo (ex: alanina, glutamina) .
#### 1.6.2 Papel biológico dos aminoácidos
Além de serem os blocos de construção das proteínas, os aminoácidos desempenham papéis importantes na síntese de neurotransmissores e hormonas .
### 1.7 Proteínas: estrutura e função
As proteínas são polímeros formados pela ligação de aminoácidos através de ligações peptídicas. A sequência e a organização tridimensional das proteínas determinam a sua função biológica .
#### 1.7.1 Níveis de estrutura proteica
As proteínas exibem quatro níveis de estrutura:
* **Primária:** A sequência linear de aminoácidos numa cadeia polipeptídica, mantida por ligações peptídicas .
* **Secundária:** Padrões locais de dobramento na cadeia polipeptídica, como as hélices alfa ($\alpha$-helices) e as folhas beta ($\beta$-sheets), estabilizados por pontes de hidrogénio .
* **Terciária:** A estrutura tridimensional completa de uma única cadeia polipeptídica, resultante de diversas interações entre os grupos R dos aminoácidos, incluindo interações hidrofóbicas, iónicas e pontes dissulfureto .
* **Quaternária:** A associação de múltiplas cadeias polipeptídicas (subunidades) para formar uma proteína funcional completa .
#### 1.7.2 Funções das proteínas
As proteínas desempenham uma vasta gama de funções vitais no organismo, incluindo:
* Estrutural (ex: colagénio) .
* Enzimática (ex: amilase) .
* Transporte (ex: hemoglobina) .
* Defesa imunológica (ex: anticorpos) .
* Motora (ex: actina, miosina, tubulina) .
* Reguladora (ex: hormonas) .
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# Mecanismos da tradução
A tradução é o processo bioquímico celular pelo qual a informação codificada numa sequência de nucleótidos do RNA mensageiro (mRNA) é convertida numa sequência de aminoácidos, formando uma proteína funcional. Este processo ocorre nos ribossomas e envolve mRNA, RNAs de transferência (tRNAs) e fatores de tradução [9](#page=9).
### 2.1 Visão geral da tradução
A tradução pode ser dividida em três etapas principais: iniciação, elongação e terminação [10](#page=10).
* **Iniciação:** Formação do complexo de iniciação, onde o ribossoma se liga ao mRNA e o primeiro tRNA é posicionado corretamente [10](#page=10) .
* **Elongação:** Adição sequencial de aminoácidos à cadeia polipeptídica em crescimento, através da leitura do mRNA pelo ribossoma e da ligação peptídica catalisada [10](#page=10) .
* **Terminação:** Cessação da síntese proteica quando um codão de paragem é encontrado no mRNA, levando à libertação da proteína recém-sintetizada e à dissociação do ribossoma [10](#page=10) .
### 2.2 Componentes essenciais da tradução
#### 2.2.1 RNA de transferência (tRNA)
O tRNA atua como uma molécula "adaptadora", ligando a linguagem dos nucleótidos (códons do mRNA) à linguagem dos aminoácidos. Cada tRNA possui [20](#page=20):
* Um **braço aceitador** na extremidade 3', onde um aminoácido específico é covalentemente ligado [11](#page=11).
* Um **anticódon**, uma sequência de três nucleótidos que se emparelha por complementaridade de bases com um códon específico no mRNA [11](#page=11) [21](#page=21).
##### 2.2.1.1 Aminoacil-tRNA sintetases (aaRS)
Estas enzimas são cruciais para a fidelidade da tradução, pois são responsáveis por "carregar" ou "ativar" o tRNA com o aminoácido correto. Cada aminoacil-tRNA sintetase é específica para um aminoácido e reconhece tanto o aminoácido correto quanto o tRNA correspondente. O processo envolve duas etapas principais: a ativação do aminoácido e a sua transferência para o tRNA. As aaRS também possuem uma função de "proofreading" (revisão) para corrigir ligações incorretas [11](#page=11) [12](#page=12) [23](#page=23).
> **Tip:** A especificidade das aminoacil-tRNA sintetases é vital para garantir que cada códon do mRNA seja traduzido no aminoácido correto, prevenindo erros na síntese proteica [11](#page=11) [23](#page=23).
##### 2.2.1.2 Modificações químicas nos tRNAs
Após a transcrição, os tRNAs sofrem extensas modificações químicas em suas bases, com até 10-20% das bases sendo modificadas em um tRNA típico. Estas modificações desempenham várias funções importantes [13](#page=13):
* **Estabilidade estrutural:** Ajudam a manter a conformação característica do tRNA em "trevo" e, posteriormente, em forma de "L" tridimensional [13](#page=13).
* **Reconhecimento preciso:** Garantem que o anticódon do tRNA reconheça corretamente o códon do mRNA [13](#page=13).
* **Eficiência da tradução:** Facilitam o acoplamento correto com o ribossoma e a aminoacil-tRNA sintetase [13](#page=13).
Exemplos de modificações incluem metilação, pseudouridina (Ψ), inosina (I) e dihidrouridina (D) [13](#page=13).
##### 2.2.1.3 Emparelhamento Wobble
O emparelhamento "wobble" refere-se a um emparelhamento imperfeito na terceira base do anticódon (na posição 5' do anticódon, que se liga à terceira base do códon 3' no mRNA). Esta flexibilidade espacial permite que um único tRNA se ligue a múltiplos códons, o que explica o facto de existirem menos tipos de tRNA do que códons. Por exemplo, a inosina (I) na posição 34 do anticódon pode emparelhar com citosina (C), uracilo (U) ou adenina (A) no códon [12](#page=12) [13](#page=13).
> **Tip:** O fenómeno "wobble" é uma adaptação que permite ao código genético ser traduzido de forma eficiente, apesar do número limitado de tRNAs disponíveis [12](#page=12).
#### 2.2.2 Ribossoma
O ribossoma é uma complexa máquina molecular riboproteica, composta por rRNA e proteínas, responsável pela síntese proteica. É constituído por duas subunidades [27](#page=27) [9](#page=9):
* **Subunidade pequena:** Liga-se ao mRNA [15](#page=15).
* **Subunidade grande:** Contém a atividade peptidil transferase, catalisando a formação de ligações peptídicas, e possui os locais de ligação para o tRNA [15](#page=15).
O ribossoma possui três locais de ligação para o tRNA:
* **Local A (aminoacil):** Local de entrada do tRNA carregado com o próximo aminoácido [15](#page=15).
* **Local P (peptidil):** Mantém o tRNA ligado à cadeia polipeptídica em crescimento [15](#page=15).
* **Local E (exit):** Liberta o tRNA vazio após a transferência do aminoácido [15](#page=15).
> **Tip:** Os ARNs ribossómicos (rRNAs) não são meros componentes estruturais; eles formam o núcleo funcional das subunidades, mantêm a sua organização tridimensional, criam os locais de interação com mRNA e tRNAs, e catalisam a formação das ligações peptídicas [27](#page=27).
Os ribossomas podem estar livres no citoplasma ou associados ao retículo endoplasmático rugoso, dependendo do destino da proteína a ser sintetizada .
#### 2.2.3 mRNA
O mRNA carrega a informação genética transcrita do DNA na forma de uma sequência de códons (tripletos de nucleótidos) [9](#page=9).
#### 2.2.4 Fatores de tradução
São proteínas auxiliares que participam nas diferentes etapas da tradução, facilitando a montagem do complexo de iniciação, a adição de aminoácidos e a terminação [9](#page=9).
### 2.3 Etapas da tradução em detalhe
#### 2.3.1 Iniciação
A iniciação é a fase de estabelecimento do complexo de tradução.
##### 2.3.1.1 Iniciação em procariotas
O processo envolve:
* **Fatores de iniciação (IFs):** IF1, IF2 (ligado a GTP) e IF3 regulam a montagem, o reconhecimento e a fidelidade do complexo [19](#page=19).
* **tRNA iniciador (tRNA^fMet):** Carrega a formil-metionina (fMet), uma metionina modificada com um grupo formil (-CHO). O grupo formil distingue este tRNA e previne a sua incorporação no local A [19](#page=19).
* **Sequência Shine-Dalgarno:** Uma região no mRNA procariótico (geralmente 7-10 bases a montante do códon AUG) que se alinha com o rRNA 16S da subunidade pequena do ribossoma, posicionando corretamente o códon de iniciação. A sequência consenso é AGGAGG [18](#page=18).
* **Ribossoma:** A subunidade 30S liga-se ao mRNA e ao tRNA iniciador, seguida pela associação da subunidade 50S [20](#page=20).
* **GTP:** Fornece energia para a junção do complexo e a libertação de fatores [19](#page=19) [20](#page=20).
O complexo de iniciação 70S forma-se com o fMet-tRNA^fMet posicionado no local P, pronto para a elongação. Procariotas podem traduzir vários genes de um único mRNA (ARNs policistrónicos) [19](#page=19) [20](#page=20).
##### 2.3.1.2 Iniciação em eucariotas
O processo é mais complexo e regulado, envolvendo:
* **Fatores de iniciação eucarióticos (eIFs):** Um grande número de proteínas que controlam a montagem do complexo [23](#page=23) [24](#page=24) [25](#page=25).
* **tRNA iniciador (tRNA^Met):** Carrega metionina não formilada [23](#page=23).
* **mRNA monocistrónico:** Geralmente, um mRNA codifica uma única proteína [23](#page=23).
* **Estruturas do mRNA:** O 5' cap e a cauda poli-A são essenciais para a estabilidade e tradução do mRNA, e desempenham um papel direto no recrutamento do ribossoma [23](#page=23) [24](#page=24).
* **Ribossoma:** A subunidade 40S liga-se ao 5' cap e "varre" o mRNA até encontrar o codão AUG (processo de "scanning"). Subsequentemente, a subunidade 60S associa-se, formando o ribossoma 80S funcional com o tRNA iniciador no local P [23](#page=23) [24](#page=24) [25](#page=25).
* **GTP:** Fornece energia para diversas etapas, incluindo o scanning e a libertação de fatores [23](#page=23) [25](#page=25).
* **Interação com cauda poli-A:** As proteínas de ligação ao poli-A (PABPs) interagem com eIF4G, promovendo a formação de um "loop" no mRNA que aumenta a eficiência da tradução [24](#page=24).
> **Example:** Em eucariotas, a subunidade 40S do ribossoma, juntamente com vários eIFs, forma o complexo de pré-iniciação 43S. Este complexo liga-se à extremidade 5' do mRNA (através do 5' cap) e realiza o "scanning" para encontrar o códon AUG [24](#page=24).
#### 2.3.2 Elongação
A elongação é o ciclo repetitivo de adição de aminoácidos à cadeia polipeptídica.
##### 2.3.2.1 Elongação em procariotas
O ciclo de elongação envolve três passos principais, mediados por fatores de elongação (EFs):
1. **Entrada do aminoacil-tRNA:** O EF-Tu, em complexo com GTP, recruta o aminoacil-tRNA correto para o local A do ribossoma. O EF-Tu também possui capacidade de proofreading [20](#page=20) [21](#page=21) .
2. **Formação da ligação peptídica:** A atividade peptidil transferase, catalisada pelo rRNA 23S na subunidade grande, transfere a cadeia polipeptídica em crescimento do tRNA no sítio P para o aminoacil-tRNA no sítio A [16](#page=16) .
3. **Translocação:** O EF-G, em complexo com GTP, move o ribossoma um códon ao longo do mRNA. O tRNA desacetilado (sem aminoácido) move-se para o sítio E para ser libertado, enquanto o tRNA com a cadeia polipeptídica expandida se move para o sítio P, abrindo o sítio A para a entrada de um novo aminoacil-tRNA [15](#page=15) [20](#page=20) .
Cada ciclo de elongação consome energia, principalmente na forma de GTP: um GTP para a entrega do aminoacil-tRNA e outro para a translocação. O EF-Ts recicla o EF-Tu, trocando GDP por GTP. A velocidade média de elongação em procariotas é de cerca de 10-20 aminoácidos por segundo [20](#page=20) [26](#page=26).
##### 2.3.2.2 Elongação em eucariotas
O processo de elongação em eucariotas é muito conservado em relação aos procariotas, mas utiliza diferentes fatores de elongação (eEFs): eEF1A, eEF1B e eEF2. A velocidade média de elongação em eucariotas é ligeiramente menor, de 5-10 aminoácidos por segundo [26](#page=26).
#### 2.3.3 Terminação
A terminação ocorre quando o ribossoma encontra um códon de paragem (stop) no mRNA (UAA, UAG ou UGA). Estes códons não possuem tRNAs correspondentes, e em seu lugar entram fatores de terminação (release factors, RFs) [21](#page=21).
##### 2.3.3.1 Terminação em procariotas
* **Fatores de terminação (RFs):**
* RF1 reconhece os códons UAG e UAA [21](#page=21).
* RF2 reconhece os códons UAA e UGA [21](#page=21).
* RF3, em conjunto com GTP, auxilia na terminação [21](#page=21).
* O fator de terminação liga-se ao sítio A e promove a hidrólise da ligação entre a cadeia polipeptídica e o tRNA no sítio P, libertando a proteína [21](#page=21).
* As subunidades ribossomais dissociam-se [21](#page=21).
##### 2.3.3.2 Terminação em eucariotas
O processo em eucariotas é semelhante, mas utiliza fatores de terminação eucarióticos:
* **eRF1:** Reconhece todos os três códons stop (UAA, UAG, UGA) e promove a libertação da cadeia polipeptídica [26](#page=26).
* **eRF3:** Uma GTPase que se liga ao eRF1 e regula a libertação através da hidrólise de GTP [26](#page=26).
* **RRF (ribosome recycling factor) ou ABCE1:** Utiliza energia de ATP para dissociar as subunidades ribossomais (60S e 40S) após a terminação [26](#page=26) [27](#page=27).
> **Tip:** A diferença fundamental entre a iniciação em procariotas e eucariotas reside na formilação da metionina inicial (procariotas) versus metionina não formilada (eucariotas), e na natureza policistrónica dos mRNAs procarióticos comparada com a monocistronicidade dos mRNAs eucarióticos [19](#page=19) [23](#page=23).
> **Tip:** Muitos antibióticos atuam como alvos de componentes da tradução bacteriana, explorando as diferenças entre os mecanismos procariótico e eucariótico para inibir o crescimento bacteriano [22](#page=22).
A tradução é um processo fundamental para a vida, permitindo a expressão da informação genética e a produção das proteínas essenciais para todas as funções celulares [9](#page=9).
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# Diferenças entre procariotas e eucariotas na tradução
Este tópico resume as distinções fundamentais nos processos de tradução entre organismos procariotas e eucariotas, com foco na iniciação, nos ribossomas, nos fatores de elongação e na terminação.
### 3.1 Iniciação da tradução em eucariotas
A iniciação da tradução em eucariotas é um processo significativamente mais complexo e altamente regulado quando comparado com os procariotas. Envolve múltiplos fatores de iniciação, denominados fatores de iniciação eucarióticos (eIFs). Os mRNAs eucarióticos são tipicamente monocistrónicos, o que significa que um mRNA codifica uma única proteína [23](#page=23).
#### 3.1.1 Componentes essenciais para a iniciação eucariótica
Para que a iniciação ocorra em eucariotas, são necessários vários componentes [23](#page=23):
* **Fatores de iniciação (eIFs):** Estas proteínas controlam a montagem do complexo de iniciação [23](#page=23).
* **tRNA iniciador:** É um tRNA carregado com metionina, mas, ao contrário dos procariotas, não é formilada [23](#page=23).
* **GTP:** Fornece a energia necessária para as etapas de junção e libertação de fatores, particularmente o eIF2 [23](#page=23).
* **mRNA:** Deve possuir um "cap" na extremidade 5' e uma cauda poli-A na extremidade 3'. O 5' cap e a cauda poli-A são cruciais para a estabilidade e tradução do mRNA, desempenhando um papel direto no recrutamento do ribossoma [23](#page=23).
#### 3.1.2 O processo de escaneamento
O processo de iniciação eucariótica inicia-se com a ligação da subunidade 40S (pequena) do ribossoma ao 5' cap do mRNA. Em seguida, a subunidade 60S (grande) liga-se para formar o ribossoma 80S funcional. Este processo complexo envolve vários eIFs [23](#page=23).
O mecanismo de escaneamento é central na iniciação eucariótica [25](#page=25):
1. **Formação do complexo de pré-iniciação 43S:** Este complexo é formado pela subunidade 40S e vários fatores auxiliares, incluindo eIF1, eIF1A, eIF3 e eIF5 [24](#page=24).
2. **Formação do complexo de ligação ao 5' cap:** Este complexo envolve o mRNA e outros fatores auxiliares, como eIF4E, eIF4G, eIF4B e eIF4A [24](#page=24).
3. **Ligação do complexo 43S ao 5' cap do mRNA:** O complexo de pré-iniciação 43S liga-se à extremidade 5' do mRNA [24](#page=24).
4. **Escaneamento do mRNA:** O ribossoma, em conjunto com os fatores de iniciação, varre o mRNA a partir da extremidade 5' até encontrar o codão de iniciação AUG [24](#page=24).
5. **Formação do complexo de iniciação 48S:** Uma vez localizado o codão AUG, forma-se o complexo 48S [24](#page=24).
6. **Associação da subunidade maior (60S):** A subunidade 60S liga-se ao complexo 48S, completando a formação do ribossoma 80S funcional, posicionado no codão AUG e pronto para iniciar a elongação [24](#page=24).
> **Tip:** A interação entre as proteínas de ligação ao poli(A) (PABPs) na extremidade 3' do mRNA e o eIF4G na extremidade 5' promove a formação de um "loop" no mRNA, o que aumenta a eficiência da tradução [24](#page=24).
O eIF2, em conjunto com o GTP e o Met-tRNAᵢ, prepara o tRNA iniciador. O mRNA é ativado por fatores eIF4. O ribossoma varre o mRNA até encontrar o codão AUG (scanning). Ocorre a hidrólise de GTP e a ligação da subunidade 60S, completando o ribossoma 80S. A elongação começa com o tRNAᵢ no sítio P [25](#page=25).
### 3.2 Ribossomas
Uma diferença fundamental reside na composição dos ribossomas. Os ribossomas procarióticos são de tipo 70S, compostos por uma subunidade 50S e uma subunidade 30S. Em contraste, os ribossomas eucarióticos são de tipo 80S, formados por uma subunidade 60S e uma subunidade 40S [26](#page=26).
### 3.3 Fatores de elongação
Embora o processo de elongação seja muito conservado entre procariotas e eucariotas, os nomes dos fatores de elongação diferem [26](#page=26).
| Característica | Eucariotas | Procariotas |
| :---------------------- | :------------------------------ | :-------------------------------- |
| Ribossomas | 80S (40S + 60S) | 70S (30S + 50S) |
| Fatores de elongação | eEF1A, eEF1B, eEF2 | EF-Tu, EF-Ts, EF-G |
| Aminoácido inicial | Met (não formilada) | fMet (formilada) |
| Velocidade média (aa/s) | 5-10 | 10-20 |
### 3.4 Terminação da tradução
A terminação em eucariotas envolve fatores de libertação distintos dos procariotas [26](#page=26).
* **Fatores de terminação eucariotas:**
* **eRF1 (eukaryotic Release Factor 1):** Reconhece todos os codões stop (UAA, UAG, UGA) e promove a libertação da cadeia polipeptídica do tRNA no sítio P [26](#page=26).
* **eRF3:** É uma GTPase que forma um complexo com o eRF1 e regula o processo de libertação através da hidrólise de GTP [26](#page=26).
* **RRF (ribosome recycling factor) ou ABCE1:** Utiliza energia de ATP para dissociar as subunidades do ribossoma (60S e 40S) após a terminação [26](#page=26).
Em contraste, em procariotas, os fatores de terminação incluem RF1 (para UAG), RF1 e RF2 (para UAA), e RF2, RF3 e GTP (para UGA) [26](#page=26).
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## Erros comuns a evitar
- Revise todos os tópicos cuidadosamente antes dos exames
- Preste atenção às fórmulas e definições chave
- Pratique com os exemplos fornecidos em cada seção
- Não memorize sem entender os conceitos subjacentes
Glossary
| Termo | Definição |
|------|------------|
| Código Genético | Conjunto de regras que definem como a sequência de nucleótidos no mRNA é traduzida numa sequência de aminoácidos para formar uma proteína. |
| Tradução | Processo biológico onde a informação genética contida no RNA mensageiro (mRNA) é utilizada para sintetizar proteínas, através da ligação de aminoácidos numa sequência específica. |
| Codão | Tríade de nucleótidos no mRNA que especifica um determinado aminoácido ou um sinal de terminação durante a tradução. |
| Aminoácido | Molécula orgânica que serve como unidade básica das proteínas. Contém um grupo amino, um grupo carboxilo e uma cadeia lateral única. |
| Proteína | Macromolécula composta por uma ou mais cadeias de aminoácidos, desempenhando uma vasta gama de funções nas células e organismos. |
| mRNA (RNA mensageiro) | Molécula de RNA que transporta a informação genética do DNA no núcleo para os ribossomas no citoplasma, servindo como molde para a síntese de proteínas. |
| tRNA (RNA de transferência) | Molécula de RNA que transporta um aminoácido específico para o ribossoma e reconhece um codão complementar no mRNA, facilitando a adição do aminoácido correto à cadeia polipeptídica em crescimento. |
| Ribossoma | Complexo macromolecular composto por RNA ribossómico (rRNA) e proteínas, responsável pela síntese de proteínas, atuando como o local onde o mRNA é lido e os aminoácidos são ligados. |
| Ligação Peptídica | Ligação covalente que une dois aminoácidos, formada pela reação entre o grupo carboxilo de um aminoácido e o grupo amino de outro, com a libertação de uma molécula de água. |
| ORF (Open Reading Frame) | Sequência contínua de nucleótidos num DNA ou RNA que começa com um codão de iniciação (AUG) e termina com um codão de terminação, com potencial para ser traduzida numa proteína. |
| Iniciação da Tradução | Etapa inicial da síntese de proteínas onde o ribossoma se liga ao mRNA, o tRNA iniciador é posicionado e o primeiro aminoácido é incorporado na cadeia polipeptídica. |
| Elongação da Tradução | Etapa da síntese de proteínas onde o ribossoma se move ao longo do mRNA, adicionando sequencialmente aminoácidos à cadeia polipeptídica em crescimento, com base na sequência dos codões. |
| Terminação da Tradução | Etapa final da síntese de proteínas onde o ribossoma encontra um codão de terminação no mRNA, sinalizando o fim da síntese proteica e levando à libertação da cadeia polipeptídica completa. |
| Wobble | Fenómeno que permite um emparelhamento de bases mais flexível na terceira posição do anticódon do tRNA com a terceira posição do codão do mRNA, permitindo que um único tRNA reconheça mais de um codão. |
| Aminoacil-tRNA sintetase | Enzima responsável por ligar o aminoácido correto ao seu tRNA correspondente, um processo crucial para a fidelidade da tradução. |