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Summary
# Equilíbrio hidro-eletrolítico e compartimentos de fluidos corporais
A regulação do equilíbrio hídrico e eletrolítico é fundamental para a manutenção da vida, garantindo a estabilidade do meio interno em face de variações externas e internas [4](#page=4).
### 1.1 Adaptação e regulação do meio interno
A evolução para a vida terrestre exigiu o desenvolvimento de sistemas fisiológicos sofisticados para manter a composição do meio interno nos animais, incluindo humanos. Estes sistemas incluem uma variedade de tampões químicos e mecanismos especializados nos pulmões e rins que atuam em conjunto para regular [4](#page=4):
1. Água [4](#page=4).
2. Eletrólitos [4](#page=4).
3. pH [4](#page=4).
### 1.2 Causas de variações no equilíbrio
Pequenas variações nos equilíbrios dinâmicos de água, eletrólitos e pH podem surgir de:
* **Externas:** trauma, mudanças de altitude, ingestão de substâncias tóxicas [5](#page=5).
* **Internas:** metabolismo fisiológico e estados patológicos [5](#page=5).
A correção endógena desses desequilíbrios nem sempre é adequada [5](#page=5).
### 1.3 Compartimentos dos fluidos corporais
Os fluidos biológicos são distribuídos em diferentes compartimentos no corpo humano [6](#page=6).
#### 1.3.1 Compartimentos extracelulares e intracelulares
A água corporal total (ACT) em adultos representa cerca de 60% do peso corporal. Em um homem de 80 kg, isso corresponde a aproximadamente 48 litros. Os principais compartimentos de fluidos são [7](#page=7):
* **Fluido Extracelular (FEC):** Compreende o plasma e o fluido intersticial. Constitui cerca de 1/3 do volume total de água corporal, aproximadamente 16 litros [7](#page=7).
* **Plasma (FEC Intravascular):** O volume plasmático em um adulto é tipicamente entre 1300 a 1800 mL/m² de superfície corporal, representando aproximadamente 5% do volume corporal total (cerca de 3,5 a 4 litros para um indivíduo de 80 kg). O adulto médio tem cerca de 5 litros de volume sanguíneo, com um volume plasmático de cerca de 3,0 a 3,5 litros quando o hematócrito é de aproximadamente 40% [7](#page=7) [8](#page=8).
* **Fluido Intracelular (FIC):** Constitui cerca de 2/3 do volume total de água corporal, aproximadamente 32 litros [7](#page=7).
> **Tip:** A água corporal total e sua distribuição variam com a idade, sexo e composição corporal [7](#page=7).
#### 1.3.2 Interconexão dos compartimentos
O compartimento intracelular e o extracelular são fisicamente separados pela membrana plasmática celular. O FEC é subdividido em [8](#page=8):
* **Líquidos intersticiais:** Correspondem a cerca de 75% do FEC [8](#page=8).
* **Intravasculares:** Correspondem a cerca de 25% do FEC [8](#page=8).
Estes compartimentos líquidos são separados pelo endotélio capilar [8](#page=8).
> **Tip:** A compreensão da dinâmica de trocas entre estes compartimentos é crucial para entender a distribuição de água e eletrólitos no corpo [9](#page=9).
#### 1.3.3 Fatores que influenciam as necessidades hídricas e eletrolíticas
As necessidades diárias de água e eletrólitos são influenciadas por:
1. Atividade do indivíduo [10](#page=10).
2. Condições ambientais [10](#page=10).
3. Estados patológicos [10](#page=10).
Em média, um adulto deve ingerir cerca de 1,5 a 2,0 litros de água diariamente para manter o equilíbrio hídrico [10](#page=10).
> **Tip:** Os mecanismos reguladores primários são projetados para manter primeiro o estado de hidratação intracelular. Portanto, desequilíbrios na água corporal total são inicialmente refletidos apenas no compartimento do FEC [10](#page=10).
#### 1.3.4 Manifestações clínicas de expansão e contração do FEC
Existem causas comuns que levam à expansão ou contração do fluido extracelular, com manifestações clínicas associadas [12](#page=12).
### 1.4 Composição dos fluidos corporais: Água e Eletrólitos
Os fluidos corporais são compostos por água e uma variedade de eletrólitos, além de componentes não eletrolíticos [13](#page=13).
#### 1.4.1 Principais eletrólitos
Os eletrólitos são substâncias que se dissociam em íons em solução. São classificados como cátions (cargas positivas) e ânions (cargas negativas) [13](#page=13).
* **Catiões (+):**
1. Sódio (Na+) [13](#page=13).
2. Potássio (K+) [13](#page=13).
3. Cálcio (Ca2+) [13](#page=13).
4. Magnésio (Mg2+) [13](#page=13).
* **Ânions (-):**
1. Cloreto (Cl-) [13](#page=13).
2. Bicarbonato (HCO3-) [13](#page=13).
3. Fosfato (HPO42-, H2PO4-) [13](#page=13).
4. Sulfato (SO42-) [13](#page=13).
5. Iões orgânicos (p.e., Lactato) [13](#page=13).
6. Proteínas carregadas negativamente [13](#page=13).
#### 1.4.2 Eletrólitos com relevância clínica
O Sódio (Na+), Potássio (K+) e Cloreto (Cl-) no plasma ou soro são habitualmente analisados em um perfil eletrolítico (ionograma). Suas concentrações fornecem informações relevantes sobre [14](#page=14):
1. Estado osmótico [14](#page=14).
2. Estado de desidratação [14](#page=14).
3. Estado ácido-base [14](#page=14).
O íon hidrogénio (H+) é um cátion, mas sua concentração no plasma é significativamente menor (~10⁻⁹ mol/L) comparada aos eletrólitos principais (~10⁻³ mol/L), sendo insignificante em termos de atividade osmótica [14](#page=14).
> **Tip:** O perfil eletrolítico é uma ferramenta diagnóstica fundamental para avaliar o estado hidro-eletrolítico e ácido-base do paciente [14](#page=14).
#### 1.4.3 Distribuição de eletrólitos entre compartimentos
A distribuição de cátions e ânions entre os compartimentos intracelular e extracelular é desigual [16](#page=16).
#### 1.4.4 Componentes não eletrolíticos no plasma
O plasma também contém substâncias que não se dissociam em íons, mas que contribuem para as propriedades osmóticas do fluido [17](#page=17).
### 1.5 Caracterização dos fluidos intersticial e intracelular
#### 1.5.1 Fluido intersticial
O fluido intersticial é essencialmente um ultrafiltrado do plasma sanguíneo. O plasma é separado do fluido intersticial pelo revestimento endotelial dos capilares, que atua como uma membrana semipermeável. Esta membrana permite a passagem de água e solutos difusíveis, mas impede a passagem de compostos de alta massa molecular, como as proteínas [18](#page=18).
#### 1.5.2 Fluido intracelular (FIC)
A composição exata do FIC é difícil de medir devido à indisponibilidade de células livres de contaminação. Os dados do FIC são considerados aproximações. O FIC constitui aproximadamente 66% do volume corporal total [19](#page=19).
> **Tip:** A composição do FIC e do FEC difere marcadamente devido à separação desses compartimentos pela membrana celular [19](#page=19).
#### 1.5.3 Transporte de íons através da membrana celular
As diferenças de composição entre o FIC e o FEC são primariamente uma consequência do transporte ativo e passivo de íons através da membrana celular [19](#page=19).
##### 1.5.3.1 Transporte ativo de sódio
A distribuição desigual de íons é devida ao transporte ativo de Na+ de dentro para fora da célula contra o gradiente eletroquímico. Este processo requer energia fornecida por processos metabólicos na célula, como a glicólise. A bomba de sódio ativa (Na+/K+-ATPase) requer a energia do Trifosfato de Adenosina (ATP) e está presente na maioria das membranas celulares, frequentemente acoplada ao transporte de K+ para dentro da célula [20](#page=20).
> **Example:** A bomba de sódio e potássio (Na+/K+-ATPase) é um exemplo crucial de transporte ativo, mantendo baixas concentrações de sódio intracelular e altas concentrações de potássio intracelular, o que é essencial para o potencial de membrana e a homeostase celular [20](#page=20).
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# Regulação da troca de fluidos e equilíbrio osmótico
Esta secção aborda os princípios fundamentais da osmose, pressão osmótica, osmolaridade dos fluidos corporais e os mecanismos que regulam o volume e a osmolalidade do líquido extracelular.
### 2.1 Princípios de osmose e pressão osmótica
A distribuição de fluidos entre os compartimentos intracelular (FIC) e extracelular (FEC) é primariamente determinada pelo efeito osmótico de solutos menores, como sódio e cloreto, através da membrana celular. As membranas celulares são altamente permeáveis à água, mas relativamente impermeáveis a pequenos iões, garantindo que a água se mova rapidamente para equilibrar as concentrações de solutos. Sempre que existir uma maior concentração de soluto num lado da membrana celular, a água difunde-se em direção a essa área [24](#page=24) [25](#page=25).
#### 2.1.1 Osmolalidade e osmolaridade
* **Osmolalidade:** Refere-se à concentração de solutos expressa em osmoles por quilograma de água (osm/Kg H₂O) [26](#page=26).
* **Osmolaridade:** Refere-se à concentração de solutos expressa em osmoles por litro de solução (osm/L solução) [26](#page=26).
Em soluções diluídas, como os fluidos corporais, estes termos são frequentemente usados como sinónimos devido às pequenas diferenças [26](#page=26).
#### 2.1.2 Distribuição de fluidos no líquido extracelular
A distribuição de fluidos dentro do líquido extracelular (LEC), especificamente entre o plasma e o espaço intersticial, é governada pelo equilíbrio de forças hidrostáticas e coloidosmóticas através das membranas capilares [22](#page=22).
> **Tip:** Embora a osmolaridade se refira a solutos por litro de solução, a osmolalidade é mais precisa para fluidos corporais, pois considera a massa de água, que é um compartimento mais estável.
### 2.2 Osmolaridade dos fluidos corporais
A osmolaridade total de cada um dos compartimentos — líquido intracelular (FIC), líquido extracelular (plasma e líquido intersticial) — é de aproximadamente 300 mOsm/L. O plasma apresenta uma osmolaridade ligeiramente superior (cerca de 1 mOsm/L a mais) em comparação com os fluidos intersticial e intracelular. Esta diferença deve-se ao efeito osmótico das proteínas plasmáticas, que exercem uma pressão maior nos capilares do que nos espaços intersticiais circundantes [27](#page=27).
> **Tip:** A diferença de osmolaridade entre o plasma e o líquido intersticial, embora pequena, é crucial para manter a distribuição de fluidos e a pressão intravascular.
### 2.3 Soluções isotónicas, hipotónicas e hipertónicas
A figura na página 28 ilustra os efeitos de diferentes concentrações de solutos impermeáveis no líquido extracelular sobre o volume celular [28](#page=28).
### 2.4 Volume e osmolalidade dos fluidos extracelular e intracelulares em situações anormais
Alterações acentuadas nos volumes intracelular e extracelular podem ser causadas por diversos fatores, incluindo:
1. Ingestão excessiva ou retenção renal de água [29](#page=29).
2. Desidratação [29](#page=29).
3. Infusão intravenosa de diferentes tipos de soluções [29](#page=29).
4. Perda de grandes volumes de fluido do trato gastrointestinal [29](#page=29).
5. Perda anormal de líquido através da transpiração ou dos rins [29](#page=29).
#### 2.4.1 Osmolalidade e tonicidade dos fluidos corporais
A osmolalidade do fluido corporal é rigorosamente mantida numa faixa estreita, entre 275 e 295 mmol/Kg. A osmolalidade sérica é um indicador importante do estado do líquido extracelular e pode ser avaliada de três formas [30](#page=30):
* Osmolalidade medida
* Osmolalidade calculada
* Osmolalidade ou tonicidade efetiva
#### 2.4.2 Medição da osmolalidade do plasma
A osmolalidade do plasma pode ser medida diretamente com um osmómetro. Alternativamente, pode ser estimada como a soma da concentração de todos os solutos no plasma. Um osmómetro não distingue entre osmoles eficazes e ineficazes. A ureia é um exemplo de um osmol ineficaz que contribui para a osmolalidade total, mas com um impacto menor do que os osmoles eficazes [31](#page=31).
> **Tip:** Na prática clínica, a ureia é considerada um osmol ineficaz em termos de movimento de água através das membranas celulares, embora contribua para a osmolaridade total medida.
É possível estimar a osmolalidade por cálculo, utilizando concentrações conhecidas de substâncias como sódio, glicose e ureia. Parâmetros que mais contribuem para a osmolalidade fisiológica são o sódio, a glicose e a ureia [32](#page=32).
Uma fórmula comum para estimar a osmolalidade sérica é:
$$ \text{Osmolaridade Calculada} \approx 2 \times [\text{Sódio}] + \frac{[\text{Glicose}]}{18} + \frac{[\text{Ureia}]}{2.8} $$
Onde as concentrações de glicose são em mg/dL e ureia em mg/dL, e a concentração de sódio é em mmol/L. Se as concentrações de glicose e ureia estiverem em mmol/L, as fórmulas devem ser adaptadas [32](#page=32).
Ao usar a fórmula de cálculo, erros opostos podem ocorrer: a sobrestimação devido à consideração de ânions como univalentes e a subestimação ao ignorar cátions não sódio e seus ânions acompanhantes. Em concentrações normais de glicose e ureia, a osmolalidade é quase igual ao dobro da concentração de sódio sérico, pois estes erros tendem a anular-se [33](#page=33).
Quando a concentração osmolal do líquido extracelular aumenta devido à acumulação de **osmoles efetivos** (como glicose, manitol e sódio), o equilíbrio osmótico é restabelecido pela migração de água do interior da célula para o líquido extracelular. Isto aumenta a osmolalidade intracelular para igualar a osmolalidade extracelular [34](#page=34).
### 2.5 Regulação hormonal do volume e osmolalidade do LEC
O volume e a osmolalidade do líquido extracelular são controlados por vários sistemas hormonais [35](#page=35):
* Hormona antidiurética (ADH ou vasopressina) [35](#page=35).
* Sistema renina-angiotensina-aldosterona [35](#page=35).
* Peptídeos natriuréticos [35](#page=35).
#### 2.5.1 Regulação da osmolalidade do LEC
As principais respostas fisiológicas ao aumento da osmolalidade do LEC envolvem a sede aumentada e a liberação de ADH, levando à retenção de água [36](#page=36).
#### 2.5.2 Correção do sódio em função da hiperglicemia
A acumulação de glicose no líquido extracelular, como na hiperglicemia, é uma causa bem conhecida de hiponatremia. A glicose é osmoticamente ativa e induz a difusão de água das células para o líquido extracelular, diluindo os eletrólitos extracelulares. Embora a diluição afete todos os eletrólitos extracelulares, o seu efeito absoluto é mais pronunciado no sódio sérico, devido à sua alta concentração iónica [37](#page=37).
Como regra geral, o sódio sérico é reduzido em aproximadamente 1,6 a 2,4 mmol/L para cada aumento de 100 mg/dL na glicose acima de 100 mg/dL [38](#page=38).
**Exemplo de correção laboratorial do sódio em função da hiperglicemia:**
* Sódio medido: 135,0 mmol/L
* Glicemia: 300 mg/dL
$$ \text{Na}^+ \text{ Corrigido} = 135 + 0.016 \times (300 - 100) = 138.2 \text{ mmol/L} $$
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# Distúrbios eletrolíticos e hiato aniónico
Este tópico aborda os eletrólitos cruciais para a homeostase hídrica e a determinação do hiato aniónico, focando em sódio, potássio, cloreto e bicarbonato.
### 3.1 Eletrólitos individuais com forte influência na homeostase da água
Os eletrólitos individuais que exercem uma influência significativa nos distúrbios eletrolíticos e na manutenção da homeostase da água incluem [41](#page=41):
* Sódio (Na+)
* Potássio (K+)
* Cloreto (Cl-)
* Bicarbonato (HCO3-)
#### 3.1.1 Sódio (Na+)
O sódio é o principal catião do organismo e sua homeostase é regulada principalmente pelos rins. Alterações na homeostase do Na+ podem ocorrer devido a perda excessiva, ganho excessivo e/ou retenção de Na+ ou H2O [43](#page=43).
##### 3.1.1.1 Regulação renal do sódio
A regulação renal do sódio é um processo complexo que envolve diferentes segmentos do néfron:
* **Túbulos proximais:** Cerca de 70% a 80% do Na+ filtrado é ativamente reabsorvido, acompanhado passivamente por H2O e Cl- para manter a neutralidade elétrica e equivalência osmótica [44](#page=44).
* **Alça de Henle descendente:** A H2O é reabsorvida passivamente devido à alta força osmótica do líquido intersticial medular renal, mas os eletrólitos não são reabsorvidos [44](#page=44).
* **Alça de Henle ascendente:** O Cl- é ativamente reabsorvido juntamente com o Na+ [44](#page=44).
* **Túbulo distal e ductos coletores:** A aldosterona estimula a reabsorção de Na+ (com água seguindo passivamente) e a secreção de K+ (e em menor grau, H+) para manter a neutralidade elétrica. A aldosterona é produzida pelo córtex da glândula suprarrenal em resposta à angiotensina II, que deriva da ação da renina. A secreção de renina pelas células justaglomerulares renais é estimulada por baixo teor de cloreto, atividade β-adrenérgica e baixa pressão arteriolar [45](#page=45).
A regulação adicional da água nos túbulos distais e ductos coletores é influenciada pela Hormona Antidiurética (ADH), também conhecida como vasopressina. A ADH é libertada pela hipófise posterior em resposta a barorreceptores e quimiorreceptores hipotalâmicos que reagem à osmolalidade plasmática. Quando o volume sanguíneo diminui ou a osmolalidade plasmática aumenta, a ADH é secretada, aumentando a permeabilidade tubular à H2O e promovendo a sua reabsorção para restaurar o volume sanguíneo e/ou diminuir a osmolalidade. Inversamente, quando o volume sanguíneo aumenta ou a osmolalidade diminui, a secreção de ADH é inibida, levando à excreção de mais H2O (diurese). A sede é outro mecanismo para restaurar a homeostase Na+/H2O, sendo estimulada pela diminuição do volume sanguíneo ou por uma condição hiperosmótica [46](#page=46) [47](#page=47) [48](#page=48).
> **Tip:** Os recetores que influenciam a regulação renal de Na+ e H2O, e a sede, são sensíveis apenas a alterações no volume sanguíneo intravascular, não no volume total do espaço extracelular (FEC). A avaliação laboratorial de distúrbios hidroeletrolíticos baseia-se principalmente no volume sanguíneo (plasma) [49](#page=49).
O sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (RAAS) é fundamental na regulação do sódio e água [50](#page=50).
##### 3.1.1.2 Alterações na concentração de sódio
As principais alterações na concentração de sódio são a hiponatremia e a hipernatremia.
###### 3.1.1.2.1 Hiponatremia
A hiponatremia é definida como uma concentração plasmática de Na+ diminuída (<135 mmol/L). Clinicamente, pode manifestar-se como náuseas, fraqueza generalizada e confusão mental, com a gravidade dos sintomas correlacionada com o grau de hiponatremia. A hiponatremia pode ser classificada como hiposmótica, hiperosmótica ou isomótica, sendo a hiponatremia hiposmótica a forma mais comum [54](#page=54) [55](#page=55).
* **Hiponatremia Hiposmótica:** Ocorre quando a concentração de Na+ plasmático é baixa e a osmolalidade plasmática também é baixa. Pode ser devida a [57](#page=57):
* **Perda excessiva de Na+ (hiponatremia deplecional):** Geralmente acompanhada por perda de água do FEC, mas em menor grau que a perda de Na+. A hipovolemia é detetada por hipotensão ortostática, taquicardia e diminuição do turgor cutâneo. As perdas de Na+ podem ser extrarrenais (Na+ urinário baixo, <10 mmol/L, indicando retenção renal de Na+) ou renais (Na+ urinário elevado, >20 mmol/L). As causas de perda renal incluem diurese osmótica, uso de diuréticos, insuficiência renal e nefropatias perdedoras de sal [58](#page=58) [59](#page=59) [60](#page=60).
* **Aumento do volume do FEC (hiponatremia dilucional):** Resulta da retenção excessiva de H2O (hipervolémica) e é frequentemente detetada por edema. Ocorre em insuficiência renal avançada, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), cirrose hepática ou síndrome nefrótica. O aumento da aldosterona e ADH, em resposta à diminuição do volume sanguíneo (percebido pelos barorreceptores), perpetua a retenção de Na+ e H2O, agravando a diluição. Na hiponatremia hiposmótica com volume normal (euvolaémica), as causas comuns são Síndrome de ADH inapropriado (SIADH), polidipsia primária e hipotiroidismo [61](#page=61) [62](#page=62) [63](#page=63).
* **Hiponatremia Hiperosmótica:** Ocorre na presença de outros solutos no FEC, causando deslocamento de água para o meio extracelular. A causa mais comum é a hiperglicemia grave, onde a redução de Na+ é proporcional ao aumento da glicose [64](#page=64).
* **Hiponatremia Isosmótica:** Pode ser uma pseudohiponatremia causada pelo Efeito de Exclusão de Eletrólitos, onde eletrólitos são excluídos do volume total de plasma ocupado por sólidos, levando à subavaliação da concentração de eletrólitos [65](#page=65).
O diagnóstico laboratorial da hiponatremia envolve a avaliação da osmolalidade urinária (U-osmolalidade) e da concentração urinária de sódio (U-Na+) [66](#page=66).
###### 3.1.1.2.2 Hipernatremia
A hipernatremia é definida como uma concentração plasmática de Na+ >150 mmol/L e é **sempre hiperosmolar**. Os sintomas são predominantemente neurológicos devido à perda de H2O das células neuronais. A hipernatremia surge em cenários de hipovolemia (perda excessiva de água ou falha na reposição), hipervolemia (ganho de Na+ em excesso em relação à água) ou normovolemia [69](#page=69) [70](#page=70).
* **Hipernatremia Hipovolémica:** Causada por perda renal ou extrarrenal de líquido hipo-osmótico, levando à desidratação. Pacientes com grandes perdas extrarrenais apresentarão urina concentrada com baixo Na+ urinário [72](#page=72).
* **Hipernatremia Hipervolémica:** Indica um ganho de água e Na+, mas com ganho de Na+ em excesso em relação à água (GANHO Na+ > GANHO H2O). É rara, mas observada em pacientes hospitalizados que recebem solução salina hipertónica ou bicarbonato de sódio [73](#page=73).
* **Hipernatremia Normovolémica:** Pode ser um prelúdio para a hipernatremia hipovolémica devido a perdas insensíveis pelo pulmão ou pele (urina concentrada). Outra causa é a diurese hídrica, que se manifesta por poliúria (>3 L de urina/dia). A diurese hídrica é uma manifestação da diabetes insípida (DI), que pode ser central (diminuição/ausência de ADH) ou nefrogénica (resistência renal à ADH). A diurese de solutos, como na diabetes mellitus, é caracterizada por alta osmolalidade urinária e hiponatremia [74](#page=74) [75](#page=75) [76](#page=76) [77](#page=77).
O diagnóstico laboratorial da hipernatremia inclui S-osmolalidade e OU-sódio (urina) para distinguir entre perdas renais e extrarrenais [78](#page=78).
#### 3.1.2 Potássio (K+)
O potássio corporal total é de aproximadamente 3,6 moles (40 a 59 mmol/kg), com apenas 1,5% a 2% presentes no espaço extracelular (LEC). O K+ plasmático é frequentemente um bom indicador das reservas totais de K+, a menos que anomalias sejam devidas a deslocamentos celulares. O balanço do potássio envolve ingestão, distribuição e excreção (renal e intestinal) [81](#page=81) [82](#page=82).
Perturbações na homeostase do K+ têm consequências graves [84](#page=84).
* **Hipocaliemia:** Diminuição do K+ extracelular (<3,5 mmol/L), caracterizada por fraqueza muscular, irritabilidade e paralisia. Concentrações plasmáticas de K+ inferiores a 3,0 mmol/L estão associadas a sintomas neuromusculares marcantes, e em concentrações mais baixas, pode levar a taquicardia, efeitos de condução cardíaca e paragem cardíaca. As causas incluem redistribuição de K+ extracelular para o espaço intracelular (FIC) ou déficits verdadeiros de K+ devido a diminuição da ingestão ou perda de líquidos ricos em potássio [84](#page=84) [88](#page=88).
* **Hipercaliemia:** Altas concentrações extracelulares de K+ (>5,0 mmol/L) podem causar confusão mental, fraqueza, formigueiro, paralisia flácida e fraqueza dos músculos respiratórios. Os efeitos cardíacos incluem bradicardia e defeitos de condução. Hipercaliemia grave (>7,0 mmol/L) pode levar ao colapso vascular periférico e paragem cardíaca. As causas incluem redistribuição (como na acidose), aumento da retenção (diminuição da filtração glomerular ou função tubular renal) ou aumento da ingestão. Condições pré-analíticas como hemólise, trombocitose e leucocitose podem causar pseudohipercaliemia [85](#page=85) [96](#page=96) [97](#page=97).
Situacões clínicas onde os níveis de potássio devem ser verificados incluem doenças cardíacas, uso de medicamentos (diuréticos, inibidores da ECA, AINEs), cetoacidose diabética, administração de grandes volumes de fluidos IV, perdas de fluidos (queimaduras, diarreia), insuficiência renal e fraqueza de etiologia desconhecida [86](#page=86).
##### 3.1.2.1 Causas de hipocaliemia
* **Redistribuição:** Transferência de K+ do LEC para o FIC. Ocorre na terapia com insulina na hiperglicemia diabética e na alcalose [89](#page=89).
* **Verdadeiro déficit de potássio:**
* **Perdas não renais:** Excreção urinária de K+ inferior a 25 mmol/dia, indicando que os rins estão a reter K+. Causas incluem diminuição da ingestão ou perda extrarrenal de fluido rico em K+ (diarreia) [91](#page=91).
* **Perdas renais:** Excreção de K+ na urina superior a 25-30 mmol/dia num cenário hipocaliémico, indicando que os rins são a fonte primária de perda. Causas incluem fase diurética da necrose tubular aguda, estados de produção excessiva de mineralocorticóides ou glucocorticóides, e terapias com tiazídicos e diuréticos de alça [92](#page=92) [93](#page=93).
##### 3.1.2.2 Causas de hipercaliemia
* **Redistribuição:** Transferência de K+ do FIC para o LEC. Ocorre na acidose, hipoxia tecidular, deficiência de insulina (cetoacidose diabética), hemólise maciça intravascular, queimaduras graves, atividade muscular violenta, rabdomiólise e síndrome de lise tumoral. Causas iatrogénicas incluem toxicidade por digoxina e bloqueio β-adrenérgico [98](#page=98) [99](#page=99).
* **Retenção de potássio:** Diminuição da filtração glomerular ou função tubular renal. Doença renal aguda moderada e insuficiência renal terminal são causas comuns de hipercaliemia prolongada. Ocorre também na insuficiência adrenocortical (doença de Addison) e com fármacos que bloqueiam a produção de aldosterona (inibidores da ECA, AINEs, bloqueadores dos recetores da angiotensina II) [100](#page=100) .
Algoritmos para o diagnóstico diferencial de hipocaliemia e hipercaliemia estão disponíveis nas páginas 94 e 102, respetivamente [94](#page=94).
#### 3.1.3 Cloreto (Cl-)
Na ausência de distúrbios ácido-base, as concentrações de Cl- no plasma geralmente seguem as de Na+. A determinação da concentração plasmática de Cl- é útil no diagnóstico diferencial de distúrbios ácido-base e essencial para o cálculo do hiato aniónico. Flutuações no Cl- sérico ou plasmático têm pouca consequência clínica .
* **Hipocloremia:** As causas geralmente paralelam as da hiponatremia. A acidose respiratória, acompanhada por aumento de HCO3-, é outra causa comum de diminuição de Cl- com Na+ normal .
* **Hipercloremia:** O aumento da concentração plasmática de Cl- ocorre com desidratação, diarreia prolongada com perda de bicarbonato de sódio, DI e tratamento excessivo com soluções salinas normais. Um aumento na concentração de Cl- também pode ser observado na alcalose respiratória devido à compensação renal para a excreção de HCO3- .
#### 3.1.4 Bicarbonato (HCO3-)
O conteúdo total de dióxido de carbono (CO2) do plasma consiste em dióxido de carbono dissolvido, compostos carbamino, HCO3- e pequenas quantidades de iões CO32- e ácido carbónico (H2CO3). Os iões de bicarbonato são responsáveis pela totalidade destas formas, exceto aproximadamente 2 mmol/L de CO2 total do plasma. Alterações no HCO3- e CO2 dissolvidos no plasma são características de desequilíbrios ácido-base .
### 3.2 O conceito de hiato aniónico
O hiato aniónico (ou intervalo aniónico, ou anion gap) é a diferença entre os catiões presentes no sangue (principalmente sódio) e os aniões (principalmente bicarbonato e cloro). Para que a eletroneutralidade do organismo seja mantida, a soma de todos os catiões deve ser igual à soma de todos os aniões [39](#page=39).
O hiato aniónico normal é de aproximadamente 12 ± 4 mEq/L. A fórmula para o cálculo do hiato aniónico é [39](#page=39) [40](#page=40):
$$ \text{Hiato Aniónico} = [\text{Na}^+] - ([\text{Cl}^-] + [\text{HCO}_3^-]) $$
O cálculo do hiato aniónico é fundamental na investigação de distúrbios eletrolíticos e ácido-base, auxiliando na diferenciação de causas de acidose metabólica. Um hiato aniónico aumentado geralmente indica a presença de aniões não mensuráveis, como lactato, cetonas, ou outras substâncias tóxicas [39](#page=39).
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# Edema e efusões
Edema refere-se ao acúmulo de excesso de líquido nos tecidos que pode ocorrer primariamente no compartimento de líquido extracelular ou, em alguns casos, no líquido intracelular .
### 4.1 Tipos de edema
O edema pode ser classificado em dois tipos principais: intracelular e extracelular .
#### 4.1.1 Edema intracelular
O edema intracelular ocorre quando há um aumento do volume de líquido dentro das células. As condições que predispõem a este tipo de edema incluem :
* Hiponatremia .
* Depressão dos sistemas metabólicos celulares .
* Aporte nutricional celular inadequado .
Este processo pode levar a um aumento significativo do volume celular, por exemplo, em uma perna isquêmica, e é frequentemente um prelúdio para a morte tecidual. O edema intracelular também pode ocorrer em tecidos inflamados, onde o aumento da permeabilidade da membrana celular permite a difusão de íons para o interior da célula, seguida pela osmose de água .
#### 4.1.2 Edema extracelular
O edema extracelular acontece quando o excesso de líquido se acumula nos espaços extracelulares, especificamente no interstício (#page=110; 114](#page=114). As duas causas gerais para este tipo de edema são :
1. Esvaziamento anormal de fluido do plasma para os espaços intersticiais através dos capilares .
2. Falha dos vasos linfáticos em retornar o fluido do interstício de volta para o sangue, também conhecido como linfedema .
A causa clínica mais comum de acumulação de líquido intersticial é o excesso de filtração de líquido capilar .
##### 4.1.2.1 Linfedema
O linfedema resulta da insuficiência dos vasos linfáticos em devolver fluido e proteína à circulação sanguínea, geralmente devido a bloqueio ou perda desses vasos. A incapacidade de remover proteínas do interstício aumenta a pressão osmótica coloidal do líquido intersticial, o que, por sua vez, promove a saída de mais fluido dos capilares .
O bloqueio do fluxo linfático pode ser causado por infecções, como a filariose linfática (causada por vermes microscópicos como *Wuchereria bancrofti*), que afeta milhões de pessoas em regiões tropicais e subtropicais. O linfedema também pode ocorrer após cirurgias (como mastectomia) ou em casos de câncer, onde os vasos linfáticos são removidos ou obstruídos, prejudicando a drenagem de fluidos e levando a edema temporário ou crônico .
##### 4.1.2.2 Mecanismo fisiopatológico do edema extracelular
Várias condições podem levar à acumulação de líquido nos espaços intersticiais resumidas em quatro categorias principais :
**I. Aumento da pressão capilar** .
* **A. Retenção renal excessiva de sal e água:** Associada à insuficiência renal aguda ou crônica, e ao excesso de mineralocorticóides .
* **B. Alta pressão venosa e constrição venosa:** Causadas por insuficiência cardíaca, obstrução venosa, falha de bombas venosas (paralisia muscular, imobilização), ou falha das válvulas venosas .
* **C. Resistência arteriolar diminuída:** Pode ocorrer devido a calor corporal excessivo, insuficiência do sistema nervoso simpático, ou uso de medicamentos vasodilatadores .
**II. Diminuição das proteínas plasmáticas** .
* **A. Perda de proteínas na urina:** Comum na síndrome nefrótica .
* **B. Perda de proteína de áreas desnudas da pele:** Ocorre em queimaduras e feridas .
* **C. Falha na produção de proteínas:** Observada em doenças hepáticas (como cirrose) e em casos de grave desnutrição proteica ou calórica .
**III. Aumento da permeabilidade capilar** .
Este tipo de edema pode ser desencadeado por:
* Reações imunes com liberação de histamina e outros mediadores (#page=123; 124](#page=124) .
* Exposição a toxinas (#page=123; 124](#page=124) .
* Infecções bacterianas (#page=123; 124](#page=124) .
* Deficiência de vitaminas, particularmente vitamina C (#page=123; 124](#page=124) .
* Isquemia prolongada (#page=123; 124](#page=124) .
* Queimaduras (#page=123; 124](#page=124) .
**IV. Bloqueio do retorno da linfa** .
Refere-se ao linfedema, como detalhado anteriormente .
#### 4.1.2.3 Edema por insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíaca é uma causa comum e grave de edema. O coração debilitado não consegue bombear o sangue eficientemente, elevando a pressão venosa e capilar e aumentando a filtração capilar. Adicionalmente, a queda na pressão arterial estimula a retenção renal de sal e água através do sistema renina-angiotensina-aldosterona, exacerbando o edema (#page=125; 126](#page=126) .
* **Insuficiência cardíaca esquerda:** Caracteriza-se pela dificuldade do sangue em fluir do pulmão para o lado esquerdo do coração. Isso leva a um aumento significativo da pressão vascular pulmonar e capilar pulmonar, resultando em edema pulmonar grave e potencialmente fatal (#page=127; 128](#page=128) .
#### 4.1.2.4 Edema causado por diminuição da excreção renal de eletrólitos e água
Doenças renais que comprometem a excreção de sal e água levam ao acúmulo desses elementos no fluido extracelular. Isso resulta em :
1. Aumento generalizado do volume do líquido intersticial (edema extracelular) .
2. Hipertensão devido ao aumento do volume sanguíneo .
Um exemplo é a glomerulonefrite aguda, onde a falha glomerular na filtração de fluidos causa edema extracelular grave e hipertensão .
#### 4.1.2.5 Edema causado por diminuição das proteínas plasmáticas
Uma concentração reduzida de proteínas plasmáticas diminui a pressão coloidosmótica plasmática, levando ao aumento da filtração capilar e edema extracelular. Causas incluem :
* **Síndrome nefrótica:** Perda de proteínas na urina devido a danos nas membranas glomerulares renais (#page=131; 132](#page=132). Edema generalizado grave ocorre quando a concentração de proteína plasmática cai abaixo de 2.5 gramas por 100 mililitros .
* **Cirrose hepática:** A fibrose hepática impede a produção adequada de proteínas plasmáticas. A cirrose também pode causar compressão do sistema portal abdominal, elevando a pressão hidrostática capilar gastrointestinal e aumentando a filtração de fluido. A combinação desses fatores leva à transudação de grandes volumes de fluido e proteína para a cavidade abdominal (ascite) .
### 4.2 Fluidos nos "espaços potenciais" do corpo
Os espaços potenciais do corpo incluem as cavidades pericárdica, peritoneal, sinovial (articulações e bursas) e pleural. Estes espaços contêm uma fina camada de fluido lubrificante para facilitar o deslizamento das superfícies. O fluido nesses espaços troca-se com os capilares adjacentes e o fluido intersticial circundante, sendo que as proteínas que extravasam são removidas pelos vasos linfáticos (#page=137; 138](#page=138) .
### 4.3 Efusão
Efusão é o termo usado para o acúmulo de fluido de edema nos espaços potenciais. Isso pode ocorrer devido a bloqueio linfático ou aumento da filtração capilar, semelhante às causas de edema intersticial. A cavidade abdominal é particularmente propensa a efusão, conhecida como ascite (um transudato), podendo acumular grandes volumes de líquido. As cavidades pleural, pericárdica e articulares também podem acumular efusões, especialmente em casos de edema generalizado. Lesões ou infecções locais nessas cavidades também podem bloquear a drenagem linfática e causar edema isolado .
#### 4.3.1 Exsudatos vs. Transudatos
* **Exsudatos:** São líquidos ricos em células, proteínas e outras substâncias celulares, que extravasam lentamente dos vasos sanguíneos, geralmente em tecidos inflamados .
* **Transudatos:** São líquidos que passam para o espaço extracelular através de uma membrana ou sob pressão tecidual. São caracterizados por baixa quantidade de proteínas e são causados por aumento da pressão hidrostática ou redução das proteínas plasmáticas. As causas comuns incluem insuficiência cardíaca, renal e hepática .
**Critério de Light:** Utilizado para determinar a origem de derrames pleurais (exsudato ou transudato) .
* **Transudato:** Mais comum em insuficiência cardíaca congestiva (80% de derrames bilaterais), cirrose hepática, insuficiência renal crônica, síndrome nefrótica e diálise peritoneal .
* **Exsudato:** Mais comum em condições paraneoplásicas (50-70%), neoplasias (42-60%) e tuberculose (23.5%) .
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## Erros comuns a evitar
- Revise todos os tópicos cuidadosamente antes dos exames
- Preste atenção às fórmulas e definições chave
- Pratique com os exemplos fornecidos em cada seção
- Não memorize sem entender os conceitos subjacentes
Glossary
| Term | Definition |
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| Fluidos Biológicos | Referem-se a todos os líquidos encontrados no corpo humano, incluindo sangue, linfa, fluidos intracelulares e extracelulares. Estes fluidos são essenciais para o transporte de nutrientes, oxigénio, hormonas e para a eliminação de resíduos metabólicos. |
| Adaptação à vida terrestre | O processo evolutivo que levou os animais terrestres a desenvolver sistemas fisiológicos capazes de manter a homeostase do meio interno, regulando a composição de água, eletrólitos e pH nos compartimentos intracelular e extracelular. |
| Tampões químicos | Substâncias que resistem a alterações significativas de pH quando um ácido ou uma base é adicionado. No corpo humano, atuam para manter o pH sanguíneo e dos fluidos corporais dentro de uma faixa estreita e fisiológica. |
| Fluido extracelular (FEC) | A fração do total de água corporal que se encontra fora das células. Inclui o plasma sanguíneo e o fluido intersticial. Representa aproximadamente um terço da água corporal total em adultos. |
| Fluido intracelular (FIC) | A fração do total de água corporal que se encontra dentro das células. Constitui a maior parte da água corporal total em adultos, representando cerca de dois terços. |
| Plasma | A porção líquida do sangue, que contém água, eletrólitos, proteínas, nutrientes e produtos de excreção. O plasma é um componente importante do fluido extracelular intravascular. |
| Fluido intersticial | O fluido que preenche os espaços entre as células e os vasos sanguíneos nos tecidos. É um ultrafiltrado do plasma e constitui a maior parte do fluido extracelular. |
| Endotélio capilar | A camada de células que reveste o interior dos capilares sanguíneos. Atua como uma membrana semipermeável que regula a passagem de água e solutos entre o plasma e o fluido intersticial. |
| Membrana plasmática celular | A barreira que envolve cada célula, controlando a entrada e saída de substâncias. É seletivamente permeável e crucial para a manutenção da composição dos fluidos intracelular e extracelular. |
| Osmolalidade | A concentração de solutos numa solução, expressa em osmoles por quilograma de água (osm/Kg água). É um indicador da tendência de uma solução para atrair água por osmose. |
| Osmolaridade | A concentração de solutos numa solução, expressa em osmoles por litro de solução (osm/L solução). Semelhante à osmolalidade, é importante para entender o movimento de água entre os compartimentos hídricos. |
| Soluções isotónicas | Soluções que têm a mesma osmolalidade que o fluido intracelular. Quando uma célula é colocada numa solução isotónica, não há movimento líquido de água e o volume celular permanece inalterado. |
| Soluções hipotónicas | Soluções que têm uma osmolalidade inferior à do fluido intracelular. Em uma solução hipotónica, a água entra nas células, causando inchaço e possível lise celular. |
| Soluções hipertónicas | Soluções que têm uma osmolalidade superior à do fluido intracelular. Em uma solução hipertónica, a água sai das células, causando enrugamento e desidratação celular. |
| Osmoles eficazes | Solutos que contribuem significativamente para a pressão osmótica e que permanecem predominantemente no compartimento extracelular. Exemplos incluem sódio e cloreto. |
| Osmoles ineficazes | Solutos que não contribuem significativamente para a pressão osmótica ou que podem atravessar as membranas celulares livremente. A ureia é um exemplo comum de um osmol ineficaz. |
| Hormona Antidiurética (ADH) | Também conhecida como vasopressina, esta hormona é libertada pela hipófise posterior e aumenta a reabsorção de água nos rins, ajudando a regular o volume hídrico e a osmolalidade do líquido extracelular. |
| Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (SRAA) | Um sistema hormonal crucial na regulação da pressão arterial e do equilíbrio de fluidos e eletrólitos, especialmente o sódio e o potássio. A aldosterona, uma hormona chave neste sistema, promove a reabsorção de sódio e água e a excreção de potássio nos rins. |
| Aldosterona | Um mineralocorticoide produzido pelo córtex da glândula suprarrenal. É essencial na regulação do balanço de sódio e potássio, promovendo a reabsorção de sódio e água e a excreção de potássio nos túbulos renais. |
| Hipernatremia | Uma condição caracterizada por uma concentração elevada de sódio no plasma sanguíneo (geralmente > 150 mmol/L). É sempre hiperosmolar e frequentemente associada a sintomas neurológicos devido à perda de água das células neuronais. |
| Hiponatremia | Uma condição caracterizada por uma concentração diminuída de sódio no plasma sanguíneo (geralmente < 135 mmol/L). Pode manifestar-se com náuseas, fraqueza, confusão mental e, em casos graves, défices neurológicos significativos. |
| Hipercaliemia | Uma condição caracterizada por uma concentração elevada de potássio no plasma sanguíneo (geralmente > 5,0 mmol/L). Pode causar sintomas neuromusculares e cardíacos graves, como bradicardia e arritmias. |
| Hipocaliemia | Uma condição caracterizada por uma concentração diminuída de potássio no plasma sanguíneo (geralmente < 3,5 mmol/L). Pode levar a fraqueza muscular, irritabilidade, paralisia e problemas cardíacos. |
| Hipercloremia | Um aumento da concentração de cloreto no plasma sanguíneo. Pode ocorrer em situações de desidratação, diarreia prolongada ou tratamento excessivo com soluções salinas. |
| Hipocloremia | Uma diminuição da concentração de cloreto no plasma sanguíneo. Frequentemente acompanha a hiponatremia e pode ocorrer em casos de acidose respiratória. |
| Bicarbonato (HCO3-) | Um íon importante no sistema tampão do corpo, atuando na regulação do pH sanguíneo. Alterações na concentração de bicarbonato são características de desequilíbrios ácido-base. |
| Edema | O acúmulo de excesso de líquido nos tecidos, podendo ser intracelular ou extracelular. O edema extracelular ocorre quando há acumulação de líquido no espaço intersticial. |
| Edema intracelular | O acúmulo de excesso de líquido dentro das células, frequentemente associado a hiponatremia ou depressão dos sistemas metabólicos celulares. |
| Edema extracelular | O acúmulo de excesso de líquido no espaço intersticial dos tecidos. Pode ser causado por um esvaziamento anormal de fluido do plasma para os espaços intersticiais ou por falha na drenagem linfática. |
| Linfedema | Edema causado pela insuficiência dos vasos linfáticos em devolver fluido e proteínas à circulação sanguínea, levando a um acúmulo significativo de líquido intersticial. |
| Ascite | Acúmulo de fluido na cavidade abdominal. É um tipo de efusão, geralmente classificada como transudato, e pode ser causada por várias condições, como cirrose hepática e insuficiência cardíaca. |
| Efusão | Fluido de edema acumulado em espaços potenciais do corpo, como cavidades pleural, peritoneal ou pericárdica. Pode ser classificada como exsudato ou transudato. |
| Transudato | Líquido que passa para o espaço extracelular dos tecidos sob pressão ou através de uma membrana, caracterizado por uma baixa quantidade de proteínas. Causado por aumento da pressão hidrostática ou redução das proteínas plasmáticas. |
| Exsudato | Líquido rico em células ou outras substâncias celulares, proteínas, que sai lentamente dos vasos sanguíneos, geralmente em tecidos inflamados. |
| Critério de Light | Um conjunto de critérios utilizados para distinguir entre exsudato e transudato em derrames pleurais, com base nas concentrações de proteínas e lactato desidrogenase (LDH) no líquido pleural e sérico. |
| Pressão hidrostática | A pressão exercida por um fluido em repouso. No contexto vascular, refere-se à pressão dentro dos vasos sanguíneos. |
| Pressão oncótica (ou coloidosmótica) | A pressão osmótica exercida pelas proteínas plasmáticas, que ajuda a reter fluido dentro dos vasos sanguíneos. |
| Renal | Relacionado aos rins, órgãos responsáveis pela filtração do sangue, produção de urina e regulação do equilíbrio hídrico e eletrolítico. |
| Tubulo distal | Uma porção do néfron renal onde ocorrem importantes processos de reabsorção e secreção, influenciados por hormonas como a aldosterona. |
| Ducto coletor | A estrutura final do néfron renal que recolhe a urina dos túbulos distais. A permeabilidade à água neste ducto é regulada pela ADH. |
| Hipófise posterior | Uma parte da glândula pituitária que armazena e liberta a hormona antidiurética (ADH) e a oxitocina. |
| Hipotálamo | Uma região do cérebro que regula várias funções corporais, incluindo a sede e a libertação de ADH. |
| Barorreceptores | Receptores de pressão localizados em vasos sanguíneos e no coração que monitorizam a pressão arterial e transmitem essa informação ao sistema nervoso central. |
| Quimiorreceptores | Receptores que detectam alterações químicas no sangue, como a osmolalidade plasmática, e transmitem essa informação para o sistema nervoso central. |
| Diurese | O processo de produção e excreção de urina. A diurese pode ser aumentada (poliúria) ou diminuída (oligúria/anúria). |
| Anion Gap (Hiato Aniónico) | A diferença calculada entre os catiões (sódio) e os aniões mensuráveis (cloreto e bicarbonato) no sangue. É uma ferramenta útil para a avaliação de distúrbios metabólicos. |
| Cetoacidose diabética | Uma complicação grave da diabetes mellitus caracterizada por níveis elevados de cetonas e glucose no sangue, e acidose metabólica. |
| Doença de Addison | Uma condição endócrina rara em que as glândulas suprarrenais não produzem hormonas suficientes, como o cortisol e a aldosterona. |
| Síndrome de Cushing | Uma condição endócrina causada pela exposição prolongada a níveis elevados de cortisol. |
| Nefropatia | Qualquer doença que afete os rins. |
| Tubulopatia | Doença que afeta os túbulos renais. |
| Glicose | Um açúcar simples que é a principal fonte de energia para as células do corpo. |
| Ureia | Um produto de excreção do metabolismo das proteínas, filtrado pelos rins e excretado na urina. |
| Cloreto | Um eletrólito negativo (anião) importante no equilíbrio de fluidos e no controlo do pH. |
| Bicarbonato | Um íon chave no sistema tampão do sangue, essencial para a manutenção do equilíbrio ácido-base. |
| Sódio | O principal catião no fluido extracelular, crucial para a regulação do volume hídrico, da pressão arterial e da excitabilidade neuromuscular. |
| Potássio | O principal catião no fluido intracelular, essencial para a função neuromuscular e cardíaca, e para o equilíbrio hídrico. |
| Angiotensina II | Um potente vasoconstritor que também estimula a libertação de aldosterona, desempenhando um papel chave na regulação da pressão arterial e do volume sanguíneo. |
| Renina | Uma enzima produzida pelas células justaglomerulares dos rins em resposta à diminuição da pressão arterial ou do teor de cloreto, iniciando o sistema renina-angiotensina-aldosterona. |
| Vasodilatadores | Substâncias que causam o alargamento dos vasos sanguíneos. |
| Minerais corticoídes | Hormonas esteroides produzidas pelo córtex suprarrenal que regulam o equilíbrio de sal e água no corpo, como a aldosterona. |
| Glicocorticóides | Hormonas esteroides produzidas pelo córtex suprarrenal com múltiplas funções, incluindo a regulação do metabolismo e a supressão da resposta inflamatória. |
| Nefrose | Um termo genérico para doenças renais que afetam os túbulos e os glomérulos. |
| Diabetes Mellitus (DM) | Uma doença metabólica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue. |
| Diabetes Insipidus (DI) | Uma condição rara caracterizada pela incapacidade dos rins de concentrar a urina, levando a uma sede excessiva e à produção de grandes volumes de urina diluída. Pode ser central (deficiência de ADH) ou nefrogénica (resistência renal à ADH). |
| Diurese osmótica | Aumento da produção de urina devido à presença de solutos não reabsorvíveis no lúmen tubular, que retêm água por osmose. |
| Transudação | A passagem de fluidos e pequenas moléculas através de uma barreira semipermeável, como a parede capilar, sem a presença de inflamação significativa. |
| Vasos linfáticos | Uma rede de vasos que transportam linfa, um fluido rico em proteínas e células imunitárias, de volta para a corrente sanguínea. |
| Cavidade pericárdica | O espaço entre as duas camadas da membrana pericárdica que envolve o coração. |
| Cavidade peritoneal | O espaço na cavidade abdominal delimitado pelo peritoneu. |
| Cavidade pleural | O espaço entre as duas camadas da membrana pleural que reveste os pulmões e a parede torácica. |
| Hemólise | A destruição dos glóbulos vermelhos. |
| Trombocitose | Um aumento anormal do número de plaquetas no sangue. |
| Leucocitose | Um aumento anormal do número de glóbulos brancos no sangue. |
| Hipoxia tecidular | Uma condição em que os tecidos do corpo recebem oxigénio insuficiente. |
| Cetoacidose | Uma complicação metabólica grave em que o corpo produz excesso de ácidos no sangue. |
| Rabdomiólise | A destruição do tecido muscular esquelético. |
| Síndrome de lise tumoral | Uma complicação metabólica que pode ocorrer após o início do tratamento do cancro, caracterizada pela libertação rápida de conteúdo celular de células tumorais mortas. |
| Digoxina | Um medicamento usado para tratar certas condições cardíacas. |
| Bloqueio beta-adrenérgico | Uma classe de medicamentos que bloqueiam os efeitos da adrenalina e da noradrenalina nos receptores beta-adrenérgicos. |
| Doença renal aguda | Uma perda súbita da função renal. |
| Insuficiência renal terminal | A fase final da doença renal crónica, onde os rins perderam a maior parte ou toda a sua função. |
| Insuficiência adrenocortical | Condição em que as glândulas suprarrenais não produzem hormonas suficientes. |
| Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (Inibidores da ECA) | Uma classe de medicamentos usados para tratar hipertensão e insuficiência cardíaca. |
| Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) | Uma classe de medicamentos usados para reduzir a dor e a inflamação. |
| Bloqueadores dos receptores da angiotensina II | Uma classe de medicamentos usados para tratar hipertensão e insuficiência cardíaca. |
| Glomerulonefrite | Inflamação dos glomérulos renais. |
| Síndrome Nefrótica | Uma condição renal caracterizada por perda de grandes quantidades de proteínas na urina, inchaço e níveis elevados de colesterol. |
| Cirrose Hepática | Uma doença crónica do fígado caracterizada pela formação de tecido cicatricial, que impede o funcionamento normal do fígado. |
| Pressão Portal Abdominal | A pressão nos vasos sanguíneos que drenam o sangue do abdómen e do trato gastrointestinal de volta para o fígado. |
| Cavidade abdominal | A grande cavidade do corpo que contém a maioria dos órgãos digestivos. |
| Ascite | Acúmulo de líquido na cavidade abdominal. |
| Perda de proteínas na urina | Eliminação excessiva de proteínas da corrente sanguínea através da urina, comum em certas doenças renais. |
| Desnutrição proteica ou calórica grave | Uma condição de ingestão insuficiente de proteínas ou calorias, levando a deficiências nutricionais significativas. |
| Isquemia | Uma restrição do suprimento sanguíneo a um tecido ou órgão, causando danos. |
| Reações imunes | Respostas do sistema imunitário a substâncias estranhas ou a células do próprio corpo. |
| Histamina | Uma substância libertada durante reações alérgicas e inflamatórias, que causa vasodilatação e aumento da permeabilidade capilar. |
| Vitamina C | Um nutriente essencial com propriedades antioxidantes, importante para a saúde dos vasos sanguíneos e a cicatrização de feridas. |
| Insuficiência Cardíaca | Uma condição em que o coração não consegue bombear sangue de forma eficiente para atender às necessidades do corpo. |
| Insuficiência Cardíaca Esquerda | O lado esquerdo do coração não consegue bombear sangue eficientemente para o corpo. |
| Insuficiência Cardíaca Direita | O lado direito do coração não consegue bombear sangue eficientemente para os pulmões. |
| Edema Pulmonar | Acúmulo de excesso de líquido nos pulmões. |
| Glomérulos Renais | As unidades de filtração dos rins, responsáveis pela remoção de resíduos do sangue. |
| Transudação | A passagem de fluidos e solutos através de uma membrana, geralmente devido a alterações na pressão hidrostática ou oncótica. |